sábado, 17 de novembro de 2012

Diálogo de Rotina






Um dia, em um sonho encontrei-me com a Rotina. Ela era uma mulher atraente e esperta, com uma beleza ofuscante que se agravava mais com a sua dialética inquestionável, rodeada de pessoas que a escutavam e admiravam. No mesmo momento, senti um encanto e muitas dúvidas a serem resolvidas, me meti à frente daqueles em que admiravam e a ouviam para um pequeno dialogo/debate:

- Porque me persegue sem aparecer com tua aparência humana formosa?

- Nunca foi perseguição, todo mundo me procura em palavras e em atitudes e me tem. Não preciso usar da minha imagem para conquistar alguém.

- Mas você é cansativa e previsível... A beleza por si só não encantará mesmo sendo assim. Me enjôo de ti a cada semana que passa e assim será até o final de minha vida.

- De diferentes modos eu até sou querida, eu estou até no diferente. Não sou de aparecer, sou de agir. Agir como uma opressora, como pode ver: os mais normais me seguem vendados e quando me perdem, se perdem também. Sou necessária para todos os humanos, mesmo alguns me odiando.

- Mas “Normalidade” é feita de números, estatística, como Aldous Huxley dizia. O perder pode ser o se achar em algo diferente e não rotineiro, algo irregular. Algo inconstante.

- Mas a irregularidade constante também é e vira uma rotina. Nunca vamos nos perder. Até na oscilação entre o regular e o inconstante.

- E qual a prova concreta disso? Se você é onipresente, é como uma deusa. Certo!?

-  Prova? Haha! Sabe que já tentou fugir de mim e o máximo que conseguiu foi me achar de outro jeito. Mas como uma deusa? De fato, mas nunca me reconheceram. Sempre “dei” ou deixei respostas concretas e plausíveis para qualquer acontecimento que me envolvesse, talvez seja por isso. O que o homem não conhece ou não conhecia faz criar deuses que nem existem. Aí sim, depois aparecem alguns que ganham seus cargos aprendendo a fazer e aparecer em um pequeno maremoto ou uma tempestade, aprendendo a mexer com a natureza e assustando os seres humanos. Fui até comparada a Chronnus, só que eu não acho isso. Chronnus tem muito mais importância do que eu, o erro de vocês é acharem que me criaram.

- Não acredito em deuses. Muito menos aqueles que não tem um poder claro sobre os humanos (Como todos acreditam).

- Azar o seu. Eu existo e domino o planeta. Poucos são os animais que não me seguem. Sou hábito, sou necessidade, sou vida, sou regular, sou o constante... Toda a moralidade e ética foi feita sobre a minha pessoa, e até aquele que transgride a lei, vai agir por mim. Submissão total, estou até no universo, na expansão constante. Talvez eu tenha criado tudo isso. Nunca pensaram? Vejo os humanos como pequenos organismo que funciona de acordo com a minha lei: a constância. Vocês não afetam o universo de maneira devastosa, só existem e, por muitos tropeços, se matam.Vocês são ordenados e escravos da minha vontade e sempre serão.

- Não é animador saber disso. O livre arbítrio é uma farsa.

- Sim e não. Mas mesmo assim, deixo a opção de todos seguirem a sua rotina.

Indignado me virei sem dar um tchau na mesma hora. Debates são debates, mas aquele me deixou furioso. Nunca tinha pensado na “Rotina” como uma deusa. Admirei-a. Sai da frente dos outros e tentei sentar com eles para escutá-la. A cadeira que ela apontou para sentar era diferente. O sonho foi terminando e simplesmente ela me fez cair em algum outro lugar, diferente, estranho e massivo que nós chamamos de realidade. Mas até hoje tenho uma enorme curiosidade em saber o nome daquela suposta “Deusa da Rotina”.

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