domingo, 29 de junho de 2014

Ai ai ai...


Que dor sóbria no peito,
Dessas que não tem jeito.
Tudo por causa do coração
Ou não.
Essa vida,uma artéria entupida
Pela decepção,recepção
Vai entender,perceber
Raciocinar pra parar
Parar pra atrasar
Não entendo,nem sustento
Faço um café,e tomo de um jeito lento.
Me queimo a língua,e agora tento,
Lavar a alma com cafeína
Procurar respostas.
Propostas
E quem sabe sorrir
De felicidade me entupir...

domingo, 22 de junho de 2014

Domingo é Domingo

Domingo, o maior dos porres, fabricante de desânimo, nos faz driblar o tédio, sempre sem sucesso, demora pra passar e quando passa nos lança em uma segunda, que é tão chata quanto uma terça.
Uma ressaca moral e física se aliam ao clima perverso desse vilão, dessa máquina oscilante de humor.
Aquela música que sempre passou despercebida, aquela mulher que está num canto da sua rotina, aquele lugar de infância que nunca mais visitou,e mais tantas outras situações, vão mexer contigo, até hoje não entendi o motivo, talvez seja pelo fato, de ser o único dia da semana, que estamos estacionados, sem qualquer sinal de transmutação, e aí sabe, acaba ficando sensível aos nossos sentidos.
Tudo vai se misturando, sendo acrescentado no seu liquidificador emocional, e batido sem compaixão, quando se dá por conta, transborda, suja tudo e assim vai, acaba impregnando, com indecisões,fracassos, nos empobrece de espirito, retira as forças, ainda mais quando o sábado à noite,foi sem sal,sem gosto,sem tempero.
Falei noite? Puta merda, se o dia foi ruim,imagina a noite, você quer que a semana não comece, quer correr, não tem pra onde,e aí vai se deitar,e quem disse que o sono vem,esquece.
Vamos para o outro lado da moeda, sim,tudo tem uma outra versão, e se estava ruim, pode ficar bom, gosto desse confronto de teses, de causar confusão mental.
Paro e penso em quantos domingos maravilhosos tive, sim eu tive, como desprezar um fator importante na vida de qualquer pessoa, os amigos, minha eterna gratidão pra quem me salvou de um domingo, seja pra tomar um chimarrão, uma cerveja, ir almoçar na colônia, porque pra manter a lucidez nesse dia, tem que ter certa criatividade
Sim esse texto, é sem nexo, sem emoção, sem nada, pra combinar com a porra do domingo.
Escrevi até um poema.

Domingo é domingo
Não é contigo,é comigo
É lágrima em litro
quase nada de riso
Emoção em perigo
não é contigo,é comigo
Nisso eu insisto
não é o que preciso
Mas necessito
Domingo é domingo...

Varanda em Buenos Aires.


- Cores.
- Oi?
- É cores, abre a janela. Eu quero ver.
- Não tem nada, é só cinza. Não ouve?
A chuva caia com a mesma sintonia que havia me acompanhado durante a semana toda. Era o barulho das calhas e dos carros na rua molhada.

Estava no pé da cama, acocorado e pensando. Eu ouvia, talvez ela ainda estivesse parcialmente coberta na cama, mas eu não a via.
- Vai, abre.

Abri. Abri uma fresta.
A manhã entrou tímida, o vento gelou meu corpo e trincou minha armadura. Fiquei olhando as luzes dos postes, ainda acessas, enquanto sinto alguém me abraçar e apoiar a cabeça nas minhas costas.
- Abre.
- Tá muito frio.
- Abre, quero te mostrar algo.

Movi aquela veneziana com a força de um urso, ela era velha e de madeira.
- Vem.
- Ficou louca? Vou passar um café.
- Vem.

Delicadamente ela passou por mim, apenas coberta por um edredom, então pediu para eu sentar na varanda.

Não pensei duas vezes.

Ela se encaixou e então a chuva começou a lavar minha alma.

Fechei o olhos e percebi.

Percebi.

A respiração acalmou.

O coração tranquilizou.

O mesmo ritmo.

E com o barulho da chuva, viramos um só.


Apenas domingo. 
Se gostar, me ligue. 

Caros amigos


- Vamos lá, vamos tomar alguma coisa.
- Não, eu não vou.
- Mas são meus amigos.
- Não bebo nada com idiotas.
- Imbecil.

Apenas domingo. 
Se gostar, me ligue. 

domingo, 15 de junho de 2014

Decibéis do Silêncio

Na semana que passou,compareci ao lançamento do livro de uma amiga, cheguei em tal recinto, me dirigi à mesa, adquiri meu exemplar, devidamente autografado, com dedicatória personalizada, abracei a escritora, bati foto, fui embora, questão de minutos, mas que foram o bastante para perceber um mundo novo, um universo paralelo que se abria diante dos meus olhos.
O motivo de tal percepção, foi algo que fez um barulho enorme, me ensurdeceu, parece piada de minha parte, mas o silêncio preservado, instituído naturalmente naquele ambiente, foi capaz de capturar minha atenção. Sempre acostumado com lugares onde os decibéis são elevados, seja no trabalho, seja no bar, era linda aquela cena, todos concentrados na obra proposta, no máximo comentando aos cochichos, e sorrisos, nossa, esses emanavam de todas as partes.
Mas pra variar, uma curiosidade me deu a mão, e me fez companhia no retorno ao meu lar. O impacto do silêncio em nossa vida?
Somos acostumados desde pequenos, à sempre ter um posicionamento, uma opinião formada, jamais nos calar, estar em constante debate com todos ao nosso redor, mas vai chegar uma hora ao qual, não temos escolhas, nossas palavras não chegam à tona, morrem antes de chegar na superfície,então nos calamos.
Calar-se por respeito, ficar quieto, para que prestem atenção no que provocou tal silêncio, os motivos são muitos, mas o impacto que tal gesto provoca,é algo enorme,causa a indiferença, apatia, frieza.
Então, o grande lance disso, talvez seja mesmo, algo que dificilmente aprendemos, o ato de ponderar, de saber exatamente como nossas palavras colocadas na construção de uma frase confortam, ou causam destruição para quem está ouvindo, lhes confesso, não é nada fácil, o ser humano na sua excelência, é muito preguiçoso para ficar pensando, somos na maior parte do tempo, impulsivos, às vezes nosso dom, em outras oportunidades o maior defeito.
Então, de agora em diante, que comece à usar mais vezes desse artifício, e que eu tenha aprendido de uma vez por todas, nem só de palavras ditas, se dizem as mais belas frases, ou se respondem as mais intensas e complexas perguntas...

Nota do editor:
O livro ao qual me referi no começo do texto,é "Por Onde Andei" de Caroline Ferri.



Leminski-se



vazio agudo
ando meio
cheio de tudo




Apenas domingo. 
Se gostar, me ligue. 

domingo, 8 de junho de 2014

Acerto de contas diário com sua consciência

Deitar na cama, esperar o sono chegar, creio que esse lance de contar carneiros, seja coisa de filme,
com a tecnologia que temos, fica-se mexendo no celular, muitas vezes nos cegando, ou caindo na testa.
E enquanto o ato de dormir não se concretiza, nos lançamos em algo desconhecido,algo próximo de reflexões,anseios, frustrações, metas e a insônia torna-se mais certa que o descanso.
É nessa hora,que tudo se mistura, se materializa, quantas pessoas passaram pelo seu dia, quantos lugares passaram diante de seus olhos, quantas ofensas profanou, quantos abraços sinceros e apertados, quanto conforto suas palavras deram, disso não tem como escapar, o acerto de contas diário com sua consciência.
Gosto desse jeito, dessa fantasia, desse embarque em mim mesmo, de viajar, rodar todas as extremidades da minha aura, celebrar quando merecido, lavar os olhos para encharcar a alma,todas as angústias se terminam, para que outras comecem, aceitar novos desafios, e deletar os que não deram certo.
Enquanto meu corpo, vira de um lado, para outro, procurando se aconchegar, minha mente faz o mesmo, tenta achar o seu parador, me apoio nas incertezas do amanhã, nas pequenas lições do hoje, e finalmente alcanço a paz merecida, fecho os olhos lentamente, para acordar na manhã seguinte, como se nada tivesse acontecido...

Ó feiticeira!


Conheci várias feiticeiras ao longo da minha vida. Aparece, desaparecem. Transformam a nossa vida, e elas nos dão de presente belas histórias para lembrar e contar.

  



Havia gemidos. Suor. Cheiro. Cabelo. Estava nadando lentamente naquele corpo.
Nós dos meus dedos percorrendo com força por toda aquela pele clara, o sangue fervia e as marcas ficavam na pele.
Havia gemidos. Lua. Noite. Calor. Estava me afogando lentamente naquele corpo.
Caímos.
Ela acende um cigarro e eu abro uma cerveja.

Passo meus olhos por todo aquele corpo, jogado no sofá velho, e então murmuro:
- Dá vontade de te morder outra vez.
- Não ouse.


Apenas domingo. 
Se gostar, me ligue. 

domingo, 1 de junho de 2014

Regressão pluviométrica

A ansiedade pelo meu segundo post, estava mexendo comigo, milhões de idéias aparecendo, e não conseguia canalizar somente um devaneio, sábado à tarde, chuvoso, fui ao mercado fazer as compras para a casa.
Me molhei com tal chuvisco, dificilmente ando com guarda-chuva,já sou desastrado ao natural, imagina com um exemplar desses em mãos, queria ver se algo me surgia, comprei o que precisava, voltando para a casa,quem estava à me esperar? Se você respondeu,a chuva,acertou nobre leitor.
E de repente, me vi mergulhar num ato de apreciar tal fenômeno, que aliado ao frio, não despertava nenhuma felicidade em quem estava nela. Embarquei numa regressão, me recordei das chuvas de verão em algum janeiro dos anos noventa, sem ter nenhuma responsabilidade, apenas se molhar,dar risadas intermináveis, aproveitar a água que vinha, esbocei um sorriso bobo, e continuei minha caminhada, olhei para as poças que se formavam pela calçada, vi meu rosto, agora com barba, preocupado pelas contas à serem pagas, roupa molhada, ou até pelo que o sábado à noite me reservava, entrei em conflito comigo, parei, dei uma suspirada.
Segui, mais à frente me deparei com uma árvore, pelas minhas contas, no mínimo nesse lugar desde que me conheço por gente, lembrei de quantas vezes saia da escola, passava por esse mesmo caminho com meus amigos de infância, e percebendo que suas folhas estavam molhadas, alguém sempre dava um chute,nos ensopando,em seguida ríamos de nossa patetice. Chegando em casa, esparramei as compras pela mesa, vim para o quarto, escrever algo em relação à essa experiência que tive, antes que me escapasse.
Tudo está do mesmo jeito, quem muda é a gente, vamos acabando com nossos sonhos,e dando espaço para a alienação cotidiana,esquecemos  de aproveitar, reorganizar metas,traçar planos, melhorar como humanos, confesso que jamais pensei, ser pego por uma lição dessas, ensinamentos, estão sempre nos rodeando, esperando uma oportunidade para exercerem seu papel em nossa vida.
Amanhã,  ou depois de amanhã, sairá o sol, secará tudo, virão outras chuvas, mas essa de hoje, teve uma representatividade enorme, ela foi mais além, conseguiu lavar a alma...