domingo, 22 de junho de 2014

Varanda em Buenos Aires.


- Cores.
- Oi?
- É cores, abre a janela. Eu quero ver.
- Não tem nada, é só cinza. Não ouve?
A chuva caia com a mesma sintonia que havia me acompanhado durante a semana toda. Era o barulho das calhas e dos carros na rua molhada.

Estava no pé da cama, acocorado e pensando. Eu ouvia, talvez ela ainda estivesse parcialmente coberta na cama, mas eu não a via.
- Vai, abre.

Abri. Abri uma fresta.
A manhã entrou tímida, o vento gelou meu corpo e trincou minha armadura. Fiquei olhando as luzes dos postes, ainda acessas, enquanto sinto alguém me abraçar e apoiar a cabeça nas minhas costas.
- Abre.
- Tá muito frio.
- Abre, quero te mostrar algo.

Movi aquela veneziana com a força de um urso, ela era velha e de madeira.
- Vem.
- Ficou louca? Vou passar um café.
- Vem.

Delicadamente ela passou por mim, apenas coberta por um edredom, então pediu para eu sentar na varanda.

Não pensei duas vezes.

Ela se encaixou e então a chuva começou a lavar minha alma.

Fechei o olhos e percebi.

Percebi.

A respiração acalmou.

O coração tranquilizou.

O mesmo ritmo.

E com o barulho da chuva, viramos um só.


Apenas domingo. 
Se gostar, me ligue. 

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