domingo, 29 de julho de 2012

Delirium tremens

A melhor maneira que encontrei para começar meus diálogos semi biográficos foi centrando o herói de minha história em um banco sob o sol, um bar ou uma cama de motel.  Uns gostam, outros não, alguns estão pouco se fodendo. Ou fodendo como no caso do último local.
Mas desta vez foi uma experiência extra-corpórea e vou deixar você mesmo imaginar o local, é seu momento de criatividade.
(Pausa para os leitores tomarem ar e um Plasil)
 
Jaqueta de couro me protegendo da garoa leve e fria de inverno. O Silêncio era mórbido, abri a boca para balbuciar um gemido, mas palavras não saíram. Surdo mudo. Era tudo que me faltava. Levei as mãos ao nariz, um cheiro doce enjoativo no ar. Talvez Lírios. Tento manter a calma, então me viro e simplesmente...
Eu não sabia como havia ido parar lá, só me vi.
Lá eu, estatelado no chão, numa posição fetal. Estranho não? Meu corpo, lá caído. Tentei forçar meu cérebro a lembrar de como havia parado lá, em um momento estava tomando um gim tônica, e no momento seguinte estou lá.
Estava mudo, tentei gritar novamente. Sem sucesso. Ok, vamos raciocinar. Fui assassinado? Quem poderia ter feito um crime destes, aparentemente perfeito. Sem sangue, sem rastros. Nenhuma pista. Pensei em todos os nomes possíveis, mas nada. Ninguém que conheço (acredito eu) tem motivos para me ver morto.
Fodeu.
Eu não queria que fosse assim, juro. Podia esperar qualquer coisa a respeito da minha morte, mas não isso. Eu realmente gostaria de saber como fui parar ali, quem tinha feito aquilo para pode experimentar o doce gosto da vingança. Voltar como assombração e perseguir a pobre alma com facas de pão pela casa, como num filme de polstergeist. Ter aquele gostinho sabe? Ver o medo no rosto de alguém, fazer provar do próprio veneno.
Mas tudo bem, era o fim.
Então, ouço passos, me viro. Vejo-a, linda. Boca carnuda, seios enormes, vestido apertado, olhos bem maquiados. Fitava-me, olhos acesos. Obviamente sabia que estava ali, cigarro em brasa mesmo sob a chuva. Sorriu e minha calça ficou apertada.
- Oi. – Fiz progresso, estava ouvindo. Aproveitei o contato.
- Quem é você? – Perguntei antes de dar mais uma bela olhada naquelas coxas grossas e no bundão que gritava por um tapa sob aquele vestido preto.
- Sua morte, querido.
Era só o que me faltava, delirium tremens. Minha morte vem como Solange Gomes num domingo de banheira do Gugu.
- Então, como chegamos a isso? Cadê a porcaria do túnel, luzes?
- Quer um túnel? Eu só vim te levar.
- Me levar pra onde?
- Pra onde tu quiseres ir.
- Que tal um motel belezinha? – Ela soltou uma alça do longo vestido preto. Meus olhos saltaram.
- Gostou?
- Não faz isso.
Eu não merecia uma morte daquelas, linda. Exatamente como eu imagino a mulher perfeita. Se ela fosse corcunda, com uma foice, nariz torto e verruguento, eu aceitava e iria com ela, mas essa gostosona na minha, não ia colar.
Procurei ao meu redor alguma coisa para acertar ela, botei os olhos num taco. Ela percebeu.
- Sabes que vou voltar.
- Tomara mesmo gostosona.
Agi rápido, golpeie minha morte. Ela caiu, montei sobre ela e acertei novamente a cabeça.
Urrei de prazer, havia vencido. Cai ao lado do corpo dela e do meu.
No momento seguinte, som de sirenes. Dei-me por conta e percebo que estou em uma ambulância. Dia seguinte descobri que havia ganhado mais uma nota em meu prontuário:
Coma alcoólico.





Apenas domingo. 
Se gostar, me ligue.  

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