A melhor maneira que encontrei para começar
meus diálogos semi biográficos foi centrando o herói de minha história em um
banco sob o sol, um bar ou uma cama de motel.
Uns gostam, outros não, alguns estão pouco se fodendo. Ou fodendo como
no caso do último local.
Mas desta vez foi uma experiência
extra-corpórea e vou deixar você mesmo imaginar o local, é seu momento de
criatividade.
(Pausa para os leitores tomarem ar e um Plasil)
Jaqueta de couro me protegendo da garoa leve e
fria de inverno. O Silêncio era mórbido, abri a boca para balbuciar um gemido,
mas palavras não saíram. Surdo mudo. Era tudo que me faltava. Levei as mãos ao
nariz, um cheiro doce enjoativo no ar. Talvez Lírios. Tento manter a calma, então
me viro e simplesmente...
Eu não sabia
como havia ido parar lá, só me vi.
Lá eu, estatelado
no chão, numa posição fetal. Estranho não? Meu corpo, lá caído. Tentei forçar
meu cérebro a lembrar de como havia parado lá, em um momento estava tomando um gim tônica, e no momento seguinte estou
lá.
Estava mudo,
tentei gritar novamente. Sem sucesso. Ok, vamos raciocinar. Fui assassinado?
Quem poderia ter feito um crime destes, aparentemente perfeito. Sem sangue, sem
rastros. Nenhuma pista. Pensei em todos os nomes possíveis, mas nada. Ninguém
que conheço (acredito eu) tem motivos para me ver morto.
Fodeu.
Eu não
queria que fosse assim, juro. Podia esperar qualquer coisa a respeito da minha
morte, mas não isso. Eu realmente gostaria de saber como fui parar ali, quem
tinha feito aquilo para pode experimentar o doce gosto da vingança. Voltar como
assombração e perseguir a pobre alma com facas de pão pela casa, como num filme
de polstergeist. Ter aquele gostinho
sabe? Ver o medo no rosto de alguém, fazer provar do próprio veneno.
Mas tudo
bem, era o fim.
Então, ouço
passos, me viro. Vejo-a, linda. Boca carnuda, seios enormes, vestido apertado,
olhos bem maquiados. Fitava-me, olhos acesos. Obviamente sabia que estava ali,
cigarro em brasa mesmo sob a chuva. Sorriu e minha calça ficou apertada.
- Oi. – Fiz
progresso, estava ouvindo. Aproveitei o contato.
- Quem é
você? – Perguntei antes de dar mais uma bela olhada naquelas coxas grossas e no
bundão que gritava por um tapa sob aquele vestido preto.
- Sua morte,
querido.
Era só o que
me faltava, delirium tremens. Minha
morte vem como Solange Gomes num domingo de banheira do Gugu.
- Então,
como chegamos a isso? Cadê a porcaria do túnel, luzes?
- Quer um
túnel? Eu só vim te levar.
- Me levar
pra onde?
- Pra onde tu
quiseres ir.
- Que tal um
motel belezinha? – Ela soltou uma alça do longo vestido preto. Meus olhos
saltaram.
- Gostou?
- Não faz
isso.
Eu não
merecia uma morte daquelas, linda. Exatamente como eu imagino a mulher
perfeita. Se ela fosse corcunda, com uma foice, nariz torto e verruguento, eu
aceitava e iria com ela, mas essa gostosona na minha, não ia colar.
Procurei ao
meu redor alguma coisa para acertar ela, botei os olhos num taco. Ela percebeu.
- Sabes que
vou voltar.
- Tomara
mesmo gostosona.
Agi rápido,
golpeie minha morte. Ela caiu, montei sobre ela e acertei novamente a cabeça.
Urrei de
prazer, havia vencido. Cai ao lado do corpo dela e do meu.
No momento
seguinte, som de sirenes. Dei-me por conta e percebo que estou em uma
ambulância. Dia seguinte descobri que havia ganhado mais uma nota em meu
prontuário:
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