Não esperava.
Não queria.
Mas voltei, voltei sim.
Um vira latas desprovido de
culpas.
Sexta feira de tarde, café da
faculdade, mesmo local que havíamos nos conhecido meses antes. Sabe
aquele lugar com cheiro de pão de queijo? Acredito que seja uma das poucas
lembranças que levo de lá. Pão de queijo. Quente e fofo, aquele que te anima
para qualquer manhã fria, aquele que joga pro alto feito bola de praia na mão
de criança arteira. Mas, eu não estava procurando pão de queijo, queria ela
naquela tarde, naquela noite, era minha batalha a ser conquistada, a batalha da
guerra que só eu conhecia.
Tava lá, pra sair vitorioso. No
auge da minha autoestima.
Procuro.
Absorta no seu cigarro, ela caminha
com elegância na área externa do café. Próximo daí, um grupo de calouros
fala de vide-game e cerveja, eles viram, olham admirando aquela beleza. Bobos.
Torcicolo de bunda. Ponto pra mim, meu dia de sorte. Linda, morena que sabe
fumar é uma coisa linda. Traga e joga a fumaça só como mulher de verdade sabe
fazer.
Sigo na sua direção, sem nenhuma
careta, apenas com um sorriso no rosto. Mais nada, apenas desejando simpatia.
Respiração controlada, nenhum lábio mordido. Olhar fixo. Eu não me importava
com ela, era minha presa e eu não era vulnerável a ela.
Continuo caminhando na direção
dela. O sinal do começo do vespertino toca. Estava arrependido de caminhar na
direção dela, se eu soubesse como seria recebido teria corrido. Ela me viu, parou.
Sabia onde ia terminar, como ia terminar. Ela me recebeu com um sorriso que poderia fazer qualquer um subir o Himalaia, nu, sem comida.
- Bom?
- Mais que bom, pensei que não te
encontraria mais por aqui.
- Eu sempre apareço.
- Percebi, faz um tempo não é. Nem
lembro mais do teu nome.
- Eu nem lembro se perguntei o teu.
- Não perguntou mesmo. Mentira.
Perguntou sim.
- Então...
- Incrível, e tu nem chega aos pés
do meu tipo ideal.
- E eu não sei disso?
- Só vem comigo, até a biblioteca.
Preciso renovar esse livro.
Ela estende Madame Bovary. Eu faço
uma cara de que desconheço.
- Emma Bovary c'est moi.
- Só me deixa pegar um café, madame.
Poucas lembranças, a tarde era chuvosa.
Ótimo, essa chuva de São Leopoldo é uma droga. Parece ácida. Quente e suja. Me
deixa mais sujo, imundo. Mas ela lava minha alma.
Cerveja. Entre cervejas e papos
lisérgicos ela acendeu um cigarro. Reparei na hora o Zippo dela. Era cravejado
Harley Davidson, um camafeu de metal dourado. Porra, uma coisa dessas precisa
ser a prova de roubo, se eu tivesse um ia enrolar ele todo em fita durex,
só isso ia salvar aquela belezinha dos dedos ligeiros que tu encontra no bar.
Voltando ao zippo ou aos lábios, a
boca loca que fuma e alterna com a borda do copo de cerveja gelada numa tarde
de sexta feira abafada. Outro ponto para mim, estávamos jogando. Jogando um
jogo ótimo. Chamado sedução. Jogo simples, poucas regras. Convencer a pessoa a
sua frente que você vale a pena para a noite. Nós lá, rindo da
mediocridade dos outros frequentadores do bar, tomando litros de polar e se
perguntando quem faria aquela pergunta primeiro.
Quebrei todas as minhas regras
naquela sexta feira, eu voltei e tive meu segundo romance com Madame Bovary. O
nome não interessa, mas na agenda do meu celular agora tenho uma madame.
É um jogo de xadrez, e para aquele final de semana queria saber com quantas
peças eu andava. Voltei para casa no domingo. Cansado. Farto.
Sozinho.
Da forma que deve ser e da forma
que sempre foi.
Sozinho.
"Deus,
eu sou capaz de coisas vergonhosas por uma boca feminina" - Mário
Bortolotto
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