Ela já estava
nua, mas eu ainda não estava. Trocamos palavras, breves elogios, mas perguntei
de seu namorado, era impossível não reparar na aliança. Perguntei há quanto
tempo estavam juntos, sem trocar a expressão ela continuou me olhando sorridente
e dizendo que era há quatro anos.
Havíamos nos
conhecido horas antes, em um café. Sai de casa cruzei o pedágio e levei o
pocket "Crimes do Amor" do Sade, comprei-o horas antes na mesma
livraria de sempre. Eu simplesmente estava destinado a encontrar alguém, não o
amor. Apenas alguém. O segredo da felicidade sempre vai estar no fundo do colo
do útero.
A noite estava
fria, lembro apenas do barulho do ar-condicionado velho. Já havíamos trepado na
escada, não deu pra segurar o tesão. Rapidinha, mas ela gozou. Subimos para o
apartamento dela, típico de uma moça recém mulher. Já na cama nos agarramos
feito loucos, bem me lembro do peito quente dela rente ao meu, batidas em um
único ritmo. Havia alguém, mas fingíamos não existir.
Era um café
com pessoas bonitas e bem vestidas, música ambiente, decoração melhor ainda.
Perfeito. Eu tomando um Ana Tabarraz
sem açúcar observando quem entrava e saia alternando entre a fumaça sinuosa e o
livro de capa rosada. Enquanto desvio o olhar para checar as horas, e ela apenas
passa na minha frente numa calça jeans apertada, e senta-se à mesa ao lado.
Sua mão
brincava com meus cabelos, ficaria nessa por horas. Por um momento parei e mil
memórias voltaram a minha mente, "e se eu me apaixonasse". Havia
acabado de conhecê-la. Fiquei branco. Fiquei trêmulo. Ela percebeu, passou a
mão na minha coxa, a respiração acalmou e tudo retornou à normalidade. Ledo
engano
Levantei os
olhos por um instante, e para minha surpresa eles estavam focados em mim.
Voltei ao livro e pisquei para retornar do delírio, levantei novamente os olhos
e continuavam a me fitar. Ela sorriu, eu retornei. O rosto era sereno, mas os
pés estavam inquietos na ponta do salto agulha. Boca loca bem maquiada, bem
rápido percebi que ela estava lá pelo mesmo motivo.
Ela adormeceu, escapei da cama. Não pude deixar de
pegar um prestigio da caixa aberta ao lado da cama, sai. Cruzei o corredor
peguei o elevador, saí para a noite fria e feia de setembro. Era mais uma de
minhas noites, fugi. Era uma hora. Peguei a estrada e escrevi sobre isso. Escrevi
sobre a mulher que pretendia nunca mais ver. Ficaríamos só com essa noite, por
muito tempo, por muitas noites.
Com licença, vou pegar um refil de cerveja.
Um brinde, a novela dolorida e masculina.
Não a você.
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