domingo, 16 de setembro de 2012

Zarabatana



Ela já estava nua, mas eu ainda não estava. Trocamos palavras, breves elogios, mas perguntei de seu namorado, era impossível não reparar na aliança. Perguntei há quanto tempo estavam juntos, sem trocar a expressão ela continuou me olhando sorridente e dizendo que era há quatro anos.
Havíamos nos conhecido horas antes, em um café. Sai de casa cruzei o pedágio e levei o pocket "Crimes do Amor" do Sade, comprei-o horas antes na mesma livraria de sempre. Eu simplesmente estava destinado a encontrar alguém, não o amor. Apenas alguém. O segredo da felicidade sempre vai estar no fundo do colo do útero.
A noite estava fria, lembro apenas do barulho do ar-condicionado velho. Já havíamos trepado na escada, não deu pra segurar o tesão. Rapidinha, mas ela gozou. Subimos para o apartamento dela, típico de uma moça recém mulher. Já na cama nos agarramos feito loucos, bem me lembro do peito quente dela rente ao meu, batidas em um único ritmo. Havia alguém, mas fingíamos não existir.
Era um café com pessoas bonitas e bem vestidas, música ambiente, decoração melhor ainda. Perfeito. Eu tomando um Ana Tabarraz sem açúcar observando quem entrava e saia alternando entre a fumaça sinuosa e o livro de capa rosada. Enquanto desvio o olhar para checar as horas, e ela apenas passa na minha frente numa calça jeans apertada, e senta-se à mesa ao lado.
Sua mão brincava com meus cabelos, ficaria nessa por horas. Por um momento parei e mil memórias voltaram a minha mente, "e se eu me apaixonasse". Havia acabado de conhecê-la. Fiquei branco. Fiquei trêmulo. Ela percebeu, passou a mão na minha coxa, a respiração acalmou e tudo retornou à normalidade. Ledo engano
Levantei os olhos por um instante, e para minha surpresa eles estavam focados em mim. Voltei ao livro e pisquei para retornar do delírio, levantei novamente os olhos e continuavam a me fitar. Ela sorriu, eu retornei. O rosto era sereno, mas os pés estavam inquietos na ponta do salto agulha. Boca loca bem maquiada, bem rápido percebi que ela estava lá pelo mesmo motivo.
Ela adormeceu, escapei da cama. Não pude deixar de pegar um prestigio da caixa aberta ao lado da cama, sai. Cruzei o corredor peguei o elevador, saí para a noite fria e feia de setembro. Era mais uma de minhas noites, fugi. Era uma hora. Peguei a estrada e escrevi sobre isso. Escrevi sobre a mulher que pretendia nunca mais ver. Ficaríamos só com essa noite, por muito tempo, por muitas noites.

Com licença, vou pegar um refil de cerveja.
Um brinde, a novela dolorida e masculina.
Não a você.


Nenhum comentário:

Postar um comentário