domingo, 12 de agosto de 2012

Momento


 Leitores,


peço desculpas pelo texto da semana passada. Foi escrito rápido e incoerente no domingo de manhã, depois de um sábado confuso regado a Jack e batom vermelho.

Escrevo agora, reciclando um material antigo.



Somente nós dois, deitados em uma cama de motel, um quarto lindo, temático. Gosto de tudo neles.
Tudo.
Mas éramos nós dois, e era o suficiente para minha dose. Tudo que precisava.

- Vamos?

Nem a pau. Não quero imaginar nenhum lugar além desse agora.

- Ficamos então.

Ficamos abraçados, ela com o corpo nu parcialmente sobre o meu, brincando com meu cabelo. Eu observando o azulejo solto através da porta entreaberta que dava para o banheiro.
Silêncio mortal, somente a respiração diminuindo de ritmo, lentamente.
Lá fora, eclodia a 3° Guerra Mundial.
Dentro do quarto, nosso silêncio.

- Curtiu a suíte?

Pé direito alto né.

- Sabia que PC Farias e amante foram encontrados mortos exatamente como estamos?

Sabia. O papo de política do dia estava me enchendo o saco, foi o dia inteira falando do tal Senador.

- Será que foi suicídio?

Talvez. Eles não estavam em casa, se fossem se matar não iam fazer isso em casa. Eu não ia curtir emporcalhar todo meu quarto. Já viu suicídio limpo querida? Bala? Banheira? Pulso? Enforcamento...

- Nunca vi alguém enforcado, nos filmes parece ser tão limpo. É nojento?

Sim, bem nojentos. Num motel ninguém se importa, na manhã seguinte a moça da limpeza vem, recolhe as camisinhas e tudo volta ao normal. O bom suicida só quer morrer né! Não chamar aquela atenção, aquele bafafá. O gerente do motel muito menos, imagina só, nós aqui deitados sabendo que alguém já se meteu uma bala na cabeça aqui. DIS. CRI. ÇÃO.

- Querido, fala como se já tivesse pensado em se matar. (ela faz biquinho enquanto pensa e me olha. Linda.)

E tu não? As vezes tu esta no silêncio do teu quarto, sozinha e com mágoas, maquiagem borrada afundada no travesseiro. Remoer esse tipo de coisa é inevitável. Todos nós somos humanos. Feridas abertas sangrando, arrependimentos, cicatrizes que surgem sempre que estamos sozinhos. Ali abandonada às moscas, remoendo a alma.

- Hummm, adoro suas mãos mexendo no meu cabelo.

O segredo é apenas mexer, fazer perceber que está ai e que também que não está. Ir variando, explorando cada canto da cabeça, cada cantinho mesmo. Suavemente.

- E vai haver um amanhã?

Não importa. Lá fora as bombas estão caindo, um borbardeio. Talvez possamos ver o sol nascer novamente. Pode ser que não.
Não importa.
Não interessa, uma vez uma amiga me disse para curtir o agora, o que temos e quando temos.
Tenho você agora, e só isso que importa.
Nós.
Sozinhos, aqui trancados com pensamentos em comum. O resto... é simplesmente o resto. Foda-se, são todos figurantes da nossa fantasia.
Criaturas que não deveriam existir, completamente descartáveis.

- Gosto de estar contigo.

Já ouvi essa história, mas agora somos o átomo, do big bang. E vamos explodir.

- Não para, não agora...

Não vou parar, eu não posso. Está além do meu controle, é muito maior. Está na hora do fim.
Me da um último beijo, o beijo que vai unir nossos corpos nessa orquestra.
Fluídos, sangue, suor, porra e a guerra.
Vem, vamos explodir.
A maior de todas as explosões dessa guerra sem sentido que está rolando lá fora, a nossa, a única que interessa. Vamos começar uma reação em cadeia.

- Hummmmmmm...

Lá fora, o último avião solta a bomba, aquela que vai devastar tudo e todos. Ponto Zero. Enola Gay sobre Hiroshima. O relógio trava, é o momento. É o recomeço, e o caos se torna realidade.

E aqui, nesse motel, nós dois viramos apenas um naquele instante.

Mas isso não mudou o mundo.

Só mudou aqui dentro.



Apenas domingo.
Se gostar, me ligue.

Nenhum comentário:

Postar um comentário