Eram dois sentados em um morro,
distante da zona urbana. Paulo e João, amigos de anos e com gostos parecidos.
Peculiares? Talvez... Até porque decidiram, na hora do rush, sair um pouco mais
cedo do trabalho para fazer um happy hour diferente. “Não se vive de bar
sempre”, frase dita pelos dois, na mesma hora, que marcaram esse programa
diferente, o pôr do sol. João, esmurrugando seu fumo atentamente e Paulo
segurando um papel de seda numa mão e uma cerveja na outra. Ao centro dos dois,
um fardo de cerveja long neck, no qual acompanharia nesse breve evento.
- Eihn, Jão – apelido carinhosamente debochado de Paulo, no qual João ganhou em uma mesa de bar – O que você acha da ironia do destino?
- Eihn, Jão – apelido carinhosamente debochado de Paulo, no qual João ganhou em uma mesa de bar – O que você acha da ironia do destino?
- Papo complicado para uma mente sóbria, cara. Como posso aprofundar nesse tema? Só sei que é como ter como chegar a alguma coisa que tu queira, mas não conseguir por algum tropeço que o destino colocou. – Respondeu João, ainda atento ao seu fazer.
- Interessante... Lembrei-me uma vez, em um papo furado, de
ter feito uma tese de um suposto deus da ironia. Algo desse porte genial não
pode ter sido criado por nós, humanos. Ele sim está sempre atento para criar
uma ressaca moral ou não. Ou criar risadas e lições de moral, mas de uma
maneira “materna” com aquela breve sensação de “Não te avisei, moleque?”.
- Ah, Paulo! Você sabe, nunca fui de acreditar muito em deuses. Sempre são jogados nas falas quando não conseguimos justificar algo. Ironia por si só existe, tudo é energia. – João pega a seda na mão de Paulo. – Agora você terá motivo para discutir isso.
Enquanto isso João enrolava o cigarro, olhando Paulo secar
uma long neck em pouco tempo e foi lembrando o quão irônico eles discutirem
algo do tipo, de tamanha importância e com um cunho reflexivo. Até porque geralmente as coisas eram tratadas com desrespeito, com ironia e com um certo sarcasmo. João era
o tipo de cara que fumava todos os dias aquele cigarro que a sociedade julga
como mal, e Paulo era aquele que tremia sem quatro cervejas por dia... Mas ambos
queriam parar.
- Nós por si só somos irônico. – Disse João para Paulo, com
um sorrisinho de canto.
- É! Todos nós somos. O molde de sociedade que nos fez
assim, irônicos e hipócritas.
O silêncio acabou dominando o momento, o cigarro foi acesso
e assim ficaram, alguns bons minutos fumando, bebendo e olhando aquele sol se
pôr. O fato é os dois pensaram que todo mundo tem uma ressaca moral, mesmo que esteja são disso,
o problema é evitar toda essa ironia do destino. Ela nunca vai ser evitada.
Duas semanas passadas do
acontecido e da reflexão, Paulo morre afogado em uma banheira, bêbado, tentando
relaxar do stress do dia-a-dia. João vive por aí... Bebendo, fumando e sofrendo
com certas mágoas por achar que influenciou indiretamente Paulo. Ainda passa a
mesma imagem de seu amigo morto, inchado e pálido no caixão pela a cabeça de João. Aquela frase que foi dita em tom
baixo no velório, para o defunto, ainda soa estranhamente:
- Um dia a gente se encontra por aí, amigo.
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