terça-feira, 21 de agosto de 2012

O divino indevido







"...e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes." (Donatien Alphonse François de Sade)


“Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes”. Citação de um dos maiores ícones do ateísmo que já existiu: Donatien François, ou Marques de Sade. Louco, pervertido, libertino, herege, aberração da sociedade. Era escritor e tinha ideias liberais consideradas impuras. Tinham o poder de corromper a mente do ser o humano, assim afirmava a IGREJA, a instituição-mor da época e que perdura até os dias de hoje. Foi preso e privado de sua liberdade a viver em um hospício até o ultimo dia de sua vida.
Citando a história de somente um homem ateu entre tantos outros homens que já existiram, brilhantes e renomados como Galileu Galilei, ou simples camponeses que não proviam de bens para pagar as “talhas” e as “corveias” aos senhores feudais e ao dizimo da IGREJA, que sofreram nos tribunais da Inquisição da época por serem considerados hereges. Segundo a IGREJA, heresia é a doutrina praticada por alguém que irá contra as leis de Deus, e o que a IGREJA decidisse o que era certo. Daí eu me pergunto: Como podem criar leis e punir alguém em nome de um ser que ninguém nunca viu? Baseado em historias e contos de fadas? Aproveitando-se da ignorância da massa menos privilegiada do feudalismo? Provavelmente naquela época eu já teria ido para a forca ou para a tortura por conta desses pensamentos. Ou talvez não. O poder de manipulação deles era tanto que eu iria obrigar-me a aceitar o que me foi imposto, seja por minha ignorância ou pelo poder de repressão da época. Os tempos mudaram, a IGREJA da época, que perdura até hoje, assumiu seus erros. Afinal perdoar é uma das virtudes de Deus.
Acompanhando o ritmo do capitalismo emergente, eis que surge a empresa IGREJA. Essas “empresas” que travam diariamente uma disputa incessante por fiéis, prometem serviços divinos que beiram o absurdo, tal como exemplo, os serviços de “desemcapetamentos” realizados por muitas dessas “empresas”. Há também aquelas que optam por serviços de comercialização de souvenires sagrados tais como a “a terra onde Jesus pisou”, “o pedaço de pedra da gruta onde supostamente Jesus foi sepultado”. Consequentemente, algum grupo de pessoas de alto poder de persuasão, inteligentes, e  com uma pitada de malandragem, enriquece a custa de uma parcela grande de pessoas que se deixam facilmente manipularem-se. Isso se explica pelo numero de IGREJAS que estão se proliferando por todo o canto, afinal: “Pequenas igrejas, grandes negócios”.
Voltando à citação de Sade, o “inferno” que ele destaca refere-se ao lugar flamejante, com rios de sangue, dor e sofrimento eterno que Dante Alighieri descreve em sua maior obra fictícia, e que também é a caracterização do lugar aonde as almas pecadoras vão segundo algumas crenças. Mas alguém se quer viu, esteve, e tem como provar que esse lugar existe? A maldade e a estupidez humana existem e são provadas. Enquanto existem pessoas famintas no mundo inteiro sofrendo com descasos humanos, outras que sofrem represálias cruéis, e são vitimas de guerras religiosas e são massacradas em países não laicos. Pessoas que se explodem com intuito de matar o máximo de outras possíveis por causa do divino, por ordem do Deus que ele acredita. E todas essas maldades são cometidas por homens e não por nenhum ser divino, porem, tiranos fizeram e ainda fazem atrocidades em nome do seu deus. Assim baseando-me na frase de Sade, eu acredito que não há outro paraíso a não ser a bondade, a justiça e o amor do ser humano, como não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dele próprio.

Dica de filme: "Quills - Contos proibidos do Marquês de Sade". Os seres humanos sempre questionaram, através da história, a sociedade e seus limites de moralidade. Em pleno século 18, em meio à sangrenta Revolução Francesa, um dos mais perigosos dissidentes foi, sem dúvida, o Marquês de Sade, que originou o termo sadismo. Sade era uma pessoa contraditória. Algumas vezes era brilhante e sensível. Outras, era egoísta e demoníaco. Foi tão escandaloso que continua a chocar a todos no século 21 e seu legado ainda promove debates sobre o que fazer com aqueles que exploram alegremente os mais sinistros tabus.





 

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